XXIV CNPT: “A divisão sexual do trabalho é política, é de poder e estabelece divisões que são insuperáveis”, afirma professora da UFMG

O último dia do XXIV Congresso Nacional dos Procuradores do Trabalho (CNPT) começou com a palestra "Realidade e desafios da mulher no mundo do trabalho e contemporâneo". A doutora em sociologia e professora da Universidade Federal de Minas Gerias (UFMG) Marlise Miriam de Matos Almeida foi uma das painelistas e fez sua apresentação dividida em três partes: como se dá a (não) divisão sexual do trabalho no Brasil – ela apresentou dados e indicadores -; a situação brasileira em termos de desigualdades de gênero; porque e como deveria ser diferente?

Segundo a doutora em sociologia, as desigualdades de gênero se estruturam na divisão sexual do trabalho, que atribui às mulheres a responsabilidade exclusiva pelos trabalhos domésticos e os cuidados para a reprodução da vida, enquanto os homens são destinados ao mundo econômico e politico. Neste sentido, ela disse que é preciso ter dados que revelem essa divisão e demonstrem que o trabalho não remunerado é trabalho e é feito, sobretudo, pelas mulheres.

“O equilíbrio entre o trabalho e as responsabilidades familiares é um dos grandes desafios contemporâneos que transforma a vida das mulheres numa corrida com obstáculos que as ancoram na subordinação e na falta de autonomia”, informou Marlise Almeida, que também é coordenadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre a Mulher e do Centro do Interesse Feminista e de Gênero da UFMG.

A palestrante informou que no Brasil, as mulheres representam 51,6% da população brasileira, contabilizando cerca de 104.772 milhões de pessoas. Em 2016, 39,8% dos domicílios brasileiros possuíam apenas uma mulher como provedora e elas são ainda a maioria da população em idade de trabalhar. Todavia, segundo explicou a professora, entre as pessoas ocupadas, ainda se verifica a predominância do trabalho formal dos homens.

Outra vertente abordada pela palestrante foi o trabalho produtivo e reprodutivo, como dinâmica desigual no cotidiano das mulheres. Neste sentido, ela apresentou estudo que examina a rotina das mulheres brasileiras para compreender as tensões que existem em relação à forma como lidam com a jornada de trabalho remunerado e trabalho doméstico não remunerado, as principais dificuldades que encontram no seu dia a dia com relação à rotina de trabalho e as representações que têm sobre trabalho doméstico e relações de gênero.

Marlise Almeida falou sobre o índice de desigualdade de gênero apresentado no Fórum Econômico Mundial e destacou que, atualmente, entre o grupo de países do G20, a França (11) é a nação com o maior progresso em relação à paridade de gênero, seguida pela Alemanha (12), Reino Unido (15), Canadá (16), África do Sul (19) e Argentina (34). Dos 24 países da região cobertos pelo Índice este ano, 18 melhoraram a sua pontuação geral em relação ao ano passado, enquanto seis regrediram, entre eles o Brasil (em 2016 (POSIÇÃO 79) para em 2017 (POSIÇÃO 90) e em 2018 (POSIÇÃO 95) .

Outro tema abordado por ela foi a exclusão política das mulheres brasileiras da política formal. Segundo a palestrante, todos os países latino-americanos têm mais mulheres na política do que o Brasil. O país, no contexto da ALC (Câmara Baixa), para o ano de 2017, não se encontra em nenhuma posição de liderança. Ele figura em antepenúltimo lugar com 10,7%, perdendo no contexto das Américas para Belize e Haiti (que tem 9,4% e 2,6, respectivamente).

“A grave ausência das mulheres dos espaços decisórios da política institucionalizada, assim como a qualidade da própria representação política é um fator determinante no processo democrático, e inclusive, tal processo da inserção política de mulheres e da representação política deve também ser questionado pelo viés de gênero”, disse a doutora.

Caminhando para o fim de sua apresentação, a professora falou sobre a violência contra a mulher no Brasil e disse que essa violência vem crescendo a cada ano. Nos últimos 12 meses, 1,6 milhão de mulheres foram agredidas ou sofreram tentativa de estrangulamento no Brasil, enquanto 22 milhões (37,1%) de brasileiras passaram por algum tipo de assédio.

Ela apresentou algumas sugestões de como poderia ser melhorada a situação da mulher de maneira geral e disse, mais uma vez, que o equilíbrio entre trabalho, família e igualdade de gênero é o ideal. “As mulheres não retornaram para os lares. É inexorável esse processo de transformação” disse.

 

 

 

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