Na última terça-feira (15), o diretor de Assuntos Legislativos da ANPT, Tiago Ranieri, participou do lançamento da atualização do Observatório de Segurança e Saúde no Trabalho - SmartLab, ferramenta integrada do Ministério Público do Trabalho (MPT) e da Organização Internacional do Trabalho (OIT). O evento, que foi conduzido pela coordenadora nacional de Defesa do Meio Ambiente do Trabalho e da Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora, Cirlene Zimmermann, contou também com a participação do coordenador do Comitê Gestor Nacional do Programa Trabalho Seguro, ministro Alberto Balazeiro, do Tribunal Superior do Trabalho (TST), e do diretor do escritório da OIT para o Brasil, Vinícius Pinheiro.
Em sua manifestação, Tiago Ranieri destacou a necessidade de reflexão de todos os indivíduos e instituições sobre a maneira como a sociedade está organizada com o intuito de que “o ato público transborde os muros das instituições e realmente afete quem detém os meios de produção, porque nós sabemos, e temos que refletir, que vivemos uma sociedade que é estruturada de forma distópica. Em uma distopia naturalizada onde o patriarcado que promove o machismo, o racismo, o capacitismo e o esgotamento das fontes naturais/ambientais, são alimentados por esse capitalismo, na sua forma neoliberal e predatória, que precisa de corpos subalternizados para acumulação de riqueza, que gera desigualdade e que fica na mão de poucas pessoas", disse.
O diretor comentou sobre a importância de estudos como a filosofia, antropologia e sociologia para pensar em uma nova forma de sociedade mais sustentável, inclusiva e igualitária. Além disso, ele citou o pensador Michel Foucault ao falar que o saber – por meio dos dados disponíveis na nova versão do observatório, não é apenas para compreender o estado das coisas, mas é para fazer um corte físico: temos que sentir na carne a quantidade de pessoas adoecidas, mutiladas, que estão morrendo, mais também um corte epistemológico e ontológico, para que se construa novos modelos de existência”
Ranieri também falou sobre a sociedade de desempenho de Byung-Chul Han e a falsa promessa de ser “empreendedor de si mesmo” como argumento para o sucateamento dos direitos trabalhistas. Ele finalizou destacando sua confiança no Ministério Público do Trabalho e demais instituições democráticas brasileiras na luta contra as mudanças climáticas e lesões sociais muito presentes atualmente.
“Na Sociedade do Cansaço é apresentada um novo modelo de sociedade: a sociedade do desempenho, que possui como dispositivo de atuação o psicopoder, que substitui a sociedade da disciplina de Foucault, a sociedade do controle de Deleuze, e que atua na mente de cada trabalhador, convencendo-o que é um empreendedor de si mesmo. Obviamente isso gera num país desigual como o Brasil uma grande consequência, sobretudo uma sociedade da ansiedade e da depressão, que nada mais é do que o esgotamento de si mesmo”, disse Tiago Ranieri.
Dados oficiais
Segundo dados do SmarLab, de 2012 a 2024, foram registrados 8,8 milhões de acidentes do trabalho e 32 mil mortes no emprego com carteira assinada. A série histórica revela um aumento de 134% do número de benefícios por incapacidade temporária associados à saúde mental no trabalho, passando de 201 mil em 2022 para 472 mil em 2024.
Entre os casos, destacam-se afastamentos acidentários por reações ao estresse (28,6%), ansiedade (27,4%), episódios depressivos (25,1%) e depressão recorrente (8.46%). Quanto aos afastamentos em geral, destacam-se como predominantes os episódios depressivos (25,6%), a ansiedade (20,9%) e a depressão recorrente (12,0%).
Futuro sustentável
A programação do evento incluiu o lançamento do pacto "Por um Futuro Sustentável no Trabalho e Clima”, com a adesão de várias instituições ao compromisso, tema do Abril Verde 2025, entre elas a ANPT.
A iniciativa aborda os impactos das mudanças climáticas no mundo do trabalho, com a necessidade de adaptações na rotina de trabalho para garantir a proteção de profissionais. O objetivo é conscientizar a sociedade sobre a importância da prevenção de doenças e acidentes relacionados ao trabalho.
Ondas de calor, incêndios, enchentes e secas prolongadas são fenômenos cada vez mais frequentes e intensos e colocam em risco a saúde e a segurança de trabalhadores e trabalhadoras. Segundo dados da Organização Internacional do Trabalho (OIT), 70% da força de trabalho mundial está exposta a calor excessivo, radiação ultravioleta, poluição do ar, eventos meteorológicos extremos, doenças transmitidas por vetores e agrotóxicos. A exposição a esses agentes pode causar acidentes, câncer, doenças cardiovasculares e respiratórias, disfunções renais e transtornos mentais.
Fotos: Ubirajara Machado/MPT
