Nesta segunda-feira (30), a vice-presidenta da ANPT, Lydiane Machado e Silva, participou da webinar “Ser mulher e ser discriminada: a superação da precarização trabalhista”, promovida pela Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão (PFDC) – órgão do Ministério Público Federal (MPF). A iniciativa, que faz parte do Projeto Encontros da Cidadania, tem como propósito promover debates entre especialistas, autoridades e representantes da sociedade civil sobre diversas temáticas ligadas à defesa dos direitos humanos.
A participação da vice-presidenta da ANPT teve como foco a “Divisão sexual do trabalho: Desigualdades históricas”. A procuradora explicou que a “Divisão Sexual do Trabalho” é historicamente adaptada a cada sociedade. Tem por características a destinação prioritária dos homens à esfera produtiva e das mulheres à esfera reprodutiva e, simultaneamente, a ocupação pelos homens das funções de forte valor social agregado (políticas, religiosas, militares etc.).
“A divisão sexual do trabalho, portanto, sempre balizou as relações entre homens e mulheres ao longo da história da humanidade”, ressaltou Lydiane. Durante o debate, a procuradora citou a socióloga alemã, Maria Mies, para fundamentar a tese de que as características influenciam até a atualidade a “divisão sexual do trabalho” e colocam a mulher em situação de vulnerabilidade e precarização, já que a elas são reservadas às atividades reprodutivas em primeiro plano e “se der” às atividades produtivas.
“Essa realidade de que as mulheres, em virtude dessa divisão sexual do trabalho que invisibiliza o trabalho doméstico e constitui verdadeira forma de dominação e exploração, estão em situação de particular vulnerabilidade e serve muito bem à ótica do capitalismo”, explicou a procuradora. Ela destacou ainda que, mesmo para as mulheres que conseguiram alcançar a independência financeira, essa questão impõe certos obstáculos que tornam especialmente difícil a ascensão profissional.
Nesse contexto, Lydiane Machado destacou que para as mulheres negras a situação de vulnerabilidade criada pela raça soma-se àquela decorrente da desvalorização do trabalho da mulher. “Assim, se às mulheres já se atribuem, em regras, as tarefas consideradas mais simplórias, repetitivas, pouco criativas e precarizantes e desvalorizadas, às mulheres negras atribuem-se além dessas, aquelas invisibilizadas e subalternas, como as atividades domésticas”, destacou.
Considerando a desigualdade de gênero como uma grave violação de direitos humanos, a procuradora concluiu o debate recitando um verso da escritora francesa Simone de Beauvoir, que diz: “Que nada nos limite, que nada nos defina, que nada nos sujeite. Que a liberdade seja nossa própria substância, já que viver é ser livre”.