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Especialistas falam sobre o impacto da tecnologia no mundo do trabalho em Congresso da ANPT

Especialistas falam sobre o impacto da tecnologia no mundo do trabalho em Congresso da ANPT
O juiz do Trabalho e professor da Universidade de São Paulo (USO) Jorge Luis Souto Maior e a etnopsicanalista Heliete Karam abriram, na manhã deste sábado, dia 18/4, em São Paulo, o segundo dia do XX Congresso Nacional dos Procuradores do Trabalho (CNPT). Os especialistas palestraram sobre o Impacto da Tecnologia no Mundo do Trabalho. Na ocasião, o jurista apresentou trechos do filme A Nós a Liberdade, de René Clair, e falou sobre a organização coletiva, a estruturação de modelos da sociedade capitalista, assim como a relação do homem com o trabalho e a sociabilidade humana.
“O avanço tecnológico faz parte da essência das novas profissões do capitalismo. Não se trata, portanto, de uma situação atual, pois ela é recorrente na história do capitalismo, na qual reflete a liberdade como uma de suas maiores contradições, ocasião em que a tecnologia é utilizada para substituição de mão de obra”, revelou.
De acordo com Souto Maior, a evolução tecnológica nesse aspecto enfraquece a classe trabalhadora na luta por melhores condições, sobretudo quando há aumento da mão de obra excedente, e gera sofrimento àqueles que são excluídos do processo produtivo. “Ela causa, principalmente, uma desorganização do próprio modelo de sociedade capitalista, que se vê na necessidade de reinvenção. Mas como essa reinvenção não se faz de modo a abalar a sua lógica primária, que é da livre concorrência, acaba sendo pensada meramente pela diminuição de direitos trabalhistas e das garantias sociais”, disse.

Para ele, o efeito dessa visão é de que as crises do capitalismo não foram inteiramente superadas e dialeticamente estão sendo cada vez mais aprofundadas. “Nesse aspecto da organização estrutural, o direito, como pretenso regulador do capitalismo, tenta evitar o incremento da lógica que é auto-destrutiva e está nas mentes e convicções de muitos. Vêm daí as regras jurídicas da limitação das possibilidades de dispensas imotivadas dos trabalhadores e políticas sociais de garantias de sustento dos desempregados, bem como todas as regras trabalhistas que limitam explorações”, apontou o jurista.

Psicodinâmica do trabalho
A psicóloga Heliete Kaam, por sua vez, abordou a sua experiência clínica na área do trabalho, ocasião em que ouve muitos trabalhadores, principalmente, sobre os seus sofrimentos mentais, o que ela chama de parte invisível do trabalho. “Do ponto de vista clínico, a tecnologia sempre existiu, ela foi da mão primitiva, como ferramenta, aos sofisticados recursos tecnológicos que temos hoje e tem sido instrumento e expressão do progresso humano, podendo contribuir para a melhoria das condições de vida e do trabalho’’, afirmou.

Contudo, o problema, segundo ela, é a forma com que o indivíduo se relaciona com a tecnologia, a qual ela denominou como um agir compulsivo em muitas ocasiões. “Trata-se de um agir compulsivo, acrítico, alienante, repetitivo, inibidor do trabalho do pensamento, capaz potencialmente de fazer com que a tecnologia seja nociva no mundo do trabalho”, revelou Karam. A nocividade para a especialista tem subciência de um modelo de gestão que usa a tecnologia material e imaterial para praticar a exclusão do sujeito.

Ainda de acordo com ela, tudo isso mecaniza o vivo, agravado a partir do neoliberalismo e acelerado na última década pelas novas formas de gestão do trabalho, que são centradas na produtividade, no lucro, na competitividade, na concorrência que promovem a desagregação social. “Essa situação desfaz o tecido social na medida em que rompe com os laços afetivos, dos quais dependem o trabalho, pautada também na avaliação individualizada, no cumprimento de prazos e metas inatingíveis, na precarização das condições de trabalho e no flagelo das terceirizações, que reduz o trabalhador e a sua mão de obra como mera mercadoria”, assegurou. Para Heliete Karam , o texto base do PL 4330/2004 é uma prova de que os governantes não entendem nada de trabalho. “A mecanização do vivo compromete o trabalho porque impacta na parte viva e latente do trabalho”, completou.

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